22 de jan. de 2008

O indecifrável mistério Celso Daniel

No dia 24 de maio de 2002, apresentou-se ao Ministério Público de Santo André uma testemunha que pediu para não ser identificada. Ela aparece nos autos do processo com o nome de "Testemunha Número Um". Diante de quatro promotores, o depoente, que declarou ser pessoa próxima do prefeito, disse ter conhecimento do esquema de caixinha denunciado por Rosângela Gabrilli. Endossou o nome dos coordenadores: Sérgio, Klinger e Ronan.
A partir daí, fez acréscimos bombásticos. Segundo a Testemunha Número Um, Gilberto Carvalho, um dos homens mais próximos de Lula na burocracia petista, sabia do esquema. Mais do que isso. Gilberto Carvalho teria dito à Testemunha Número Um que ele próprio teria sido por diversas vezes o portador do dinheiro da caixinha, que entregava pessoalmente ao presidente do partido, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
Um mês depois, em junho, a Testemunha Número Um assumiu sua identidade. Tratava-se de João Francisco Daniel, o irmão mais velho do prefeito. Na ocasião, vários cardeais petistas – entre eles o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, escalado pelo partido para acompanhar o caso – vieram a público desqualificar João Francisco, dizendo que ele estava a serviço da "direita" e que era brigado com o irmão.
Contra esse argumento, o irmão do prefeito lembrou a VEJA que, meses antes do seqüestro, ele próprio, João Francisco, Celso e respectivas mulheres haviam viajado juntos para a Itália, de férias. Recentemente, João Francisco contou a mesma história envolvendo Gilberto Carvalho e José Dirceu à CPI dos Bingos. Em outro depoimento à mesma CPI, o irmão mais novo de Celso, Bruno, endossou a versão. De acordo com João Francisco, Miriam Belchior, a primeira mulher do prefeito, também sabia da história em seus detalhes.
Ex-seminarista e ligado à esquerda católica, Gilberto Carvalho foi um dos fundadores do PT no Paraná. Quando saiu de seu estado natal, ocupou várias funções na burocracia do partido, em geral diretamente ligadas a Luiz Inácio Lula da Silva. Por essa razão, quando Celso Daniel o nomeou secretário de Comunicação de sua prefeitura, ele foi visto pela turma do Boulevard como um enviado especial do próprio Lula ao ABC paulista.
Era atípico Celso escolher colaboradores fora do círculo de seus amigos mais próximos. Gilberto, no entanto, se adaptou bem. Tornou-se próximo não apenas de Celso Daniel, mas também de Sérgio Gomes da Silva e Klinger Luiz de Oliveira Sousa, que os irmãos de Celso apontam como os chefões da corrupção. Naquela noite no restaurante Arabia em que Celso comemorava sua ascensão a coordenador de campanha no PT, Sérgio, Klinger e Gilberto Carvalho brindaram com ele.
"Acho uma injustiça dizerem que Celso brigou comigo porque soube de algum suposto esquema. Éramos muito próximos até o fim da vida, e se alguém saiu extremamente prejudicado dessa história fui eu", disse Klinger a VEJA.
A reportagem da revista tentou confirmar o encontro no restaurante com Gilberto Carvalho, mas ele não retornou as ligações. Além dele, Miriam Belchior e José Dirceu também foram procurados. Informados do assunto que seria tratado, não atenderam à reportagem de VEJA.

(*)Fotografia: Luiz Eduardo Greenhalgh, Gilberto Carvalho e José Dirceu.
Texto de apoio: Toinho de Passira

4 comentários:

Anônimo disse...

Se a morte do prefeito Celso Daniel foi latrocínio ou queima de arquivo eu não sei. Mas as circunstâncias da condução da investigação, constituem a maior prova, ou indício pelo menos, de que tem coisa escondida debaixo do tapete. Se a justiça brasileira tiver uma gota de seriedade, não poderá deixar passar isso em brancas nuvens.

ma gu disse...

Alô, Giulio.

Sabe do que achei falta? Os números da plaquinha na parte baixa das fotos...

Anônimo disse...

E quantas testemunhas deste caso foram "caladas". Por certo, comprometeriam muito os autores. O que me estarrece é a venda da Justiça - esclarecendo venda: pano na face dela, não venda de comércio.

Unknown disse...

Ainda há muito a descobrir neste caso. O problema é que não há vontade em apontar os culpados. O episódio está longe de se abrir ao povo, porque esconde a sujeira deste governo que se dizia moralizador. Mas a verdade um dia virá á tona. só espero que seja neste governo. ACORDA BRASIL