27 de fev. de 2008

O regime

Por Ralph J. Hofmann

Em 1939 ante a escassez de alimentos causada pelo esforço de guerra, a maioria dos agricultores estando na frente de combate, substituídos em parte por mulheres cooptadas pelo “Land Army” (Exército da Agricultura) originalmente habitantes urbanas sem qualquer experiência no arado e no pastoreio, os mares estando fervilhando de cardumes de submarinos alemães ávidos por afundar navios trazendo comida das colônias para a metrópole, a Inglaterra estabeleceu um racionamento de comida.
Cada pessoa recebia uma cartela de selos diferentes cada selo representando um produto diferente. Havia selos para carne, selos para queijo, óleo, bacon, ovos, etc.
Para ter uma idéia provavelmente uma família de quatro pessoas podia, juntando os selos de cada uma, comprar algo abaixo de um quilo de carne (do tipo que estivesse disponível) por semana. Algo como trinta e sete gramas de carne pessoa/dia (Hoje um bife num restaurante simples no Brasil pesa de 150 gr. a 200 gr.). A ração de bacon era três tiras por pessoa/semana. Um ovo por pessoa por semana. Poucas colheres de chá de açúcar. Raspas de geléia. Todo o pão era integral, mas também era racionado.
As pessoas encarregadas de elaborar as quotas deste racionamento agiram com sabedoria. Contaram as calorias e tentaram fazer uma reeducação alimentar do povo.
Por outro lado, quem tivesse um jardim plantava desde hortaliças e vagens (como ervilhas) até o próprio chá preto. Outros criavam coelhos. Isto onde houvesse espaço. Até os parques públicos perderam seus canteiros de flores para abrigar a plantação de víveres.
Na época se considerava que um homem precisava de 3.000 calorias e uma mulher 2500 calorias por dia. Hoje reconhecemos que as reais necessidades são algo abaixo disto. A rações conquanto fossem irritantes e frustrantes asseguravam a correta ingestão de calorias. O povo inglês terminou a guerra mais esbelto e mais saudável, menos propenso a enfartos e outras decorrências da obesidade.
Mas a coisa não terminou em 1945 com o fim da segunda guerra. A Inglaterra estando economicamente quebrada, o racionamento, agora para economizar divisas, seguiu até 1954, e no caso de certos produtos chegou a entrar nos anos sessenta. Sempre mantendo o nível de calorias.
Esta semana a revista VEJA publicou a lista das rações a que os cubanos tem direito a adquirir, por pessoa, cada mês. Isto nos mercados oficiais ao preço de 20 pesos do salário de 265 pesos mensais. Para complementar esta ração a dona de casa vai ter de gastar em mercados livres onde a lista do racionamento custa 160 pesos. De onde se depreende que o cubano normalmente não poderia comprar sabonete, lâmina de barbear ou roupa após adquirir comida. Faltaria dinheiro.
Analisando a lista, calculando generosamente as calorias a lista supre cada pessoa com umas 1300 calorias diárias. Apenas as crianças tem uma ração de leite que eleva isto para 1800 calorias (para crianças de 4 a 6 anos a OMS considera um mínimo de 1800 calorias, de 7 a 10 anos já passa para 2000 calorias).
Vale uma observação. Uma alta percentagem das calorias provem de 1,3 quilos de açúcar branco e 1,3 quilos de açúcar mascavo. Produto da terra, o açúcar não deve ser escasso. E até que o açúcar mascavo supre alguns suplementos vitamínicos importantes. Mas isto é muito acima da quantidade de açúcar recomendado para uma pessoa. Adiante causará outros problemas de saúde.
Por outro lado, esta lista, em vigor desde 1962, ou seja, 46 anos, não chega nas 2500 calorias/dia por homem e 2300 calorias/dia por mulher calculadas conforme o conhecimento que temos hoje. Ou seja, o estado não alimenta o povo adequadamente após 49 anos no poder.
Apenas mantém o povo suficientemente vivo.
E é esta administração que José Dirceu e outros queriam que copiássemos?

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