Do escândalo da vez do vazamento do dossiê sobre os gastos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, envolvendo a ex-primeira dama, dona Ruth Cardoso, duas preliminares parecem assentadas, seja em acordo por baixo do pano entre as lideranças de governo e oposição ou por instruções do Palácio do Planalto:
1 – a ministra-candidata Dilma Rousseff não tem nada a ver com as leviandades do segundo time do Gabinete Civil e, 2 – qualquer que seja o rumo das investigações, deve estacionar no andar de baixo.
É inevitável que algumas vozes indomáveis, na verdade muito poucas, recusem a partitura do conchavo e protestem para o registro biográfico.
As razões presidenciais para poupar a mais importante estrela do seu elenco são de uma transparência de cristal: a ministra Dilma é a coordenadora das obras do Programa de Aceleração do Desenvolvimento (PAC), peça essencial para os dois anos e sete meses do segundo mandato de Lula.
É tarde para arrependimento, nem é do que se trata. Mas, um presidente em campanha, com a desculpa estropiada de que visita obras, lança outra e, no palanque, com microfone e platéia previamente providenciados, gaba-se sem qualquer constrangimento e cutuca os adversários, já tomou a sua decisão e está em meio de uma estrada sem volta. Dilma irá até o fim do percurso, sem que as fofocas de Brasília alterem a sua posição no topo da tabela. Como a única candidata.
Só um terremoto, que não deixe pedra sobre pedra, derrubaria a candidata da escolha pessoal e assumida de Lula. E a sua substituição abriria uma crise política de saída imprevisível. Pelas muitas e claras razões. O presidente sairia chamuscado com o veto à sua candidata. E, mais grave, não há nos quadros esburacados do PT um único nome com lastro para resistir ao fogo amigo da chusma de pretendentes que se engalfinhariam para disputar o sacrifício de servir à pátria.
Por enquanto, noves fora às cambalhotas do inesperado, as coisas estão se acomodando à margem da turbulência dos irredutíveis.
Mas os salpicos do arrependimento tanto umedecem o governo como a oposição. Lula reserva muito pouco tempo para conversar com o espelho. Ainda assim, não é possível que não tenha sovado no tórax as surdas pancadas do arrependimento por ter provocado o seu antecessor para as comparações entre o medíocre desempenho do odiado adversário e os recordes da coleção do maior governo de todos os tempos.
Certamente que o ex-presidente não tomaria a iniciativa de polemizar com o sucessor. A agenda de compromissos internacionais ocupa todo o seu tempo útil.
E não é tudo. A sobrevivência política de FH, como inimigo do governo, despertou na turma ansiosa por prestar serviços e favores ao presidente todo-poderoso, farejando denúncias na herança.
O escândalo do dia com o vazamento do dossiê sobre os gastos do governo do inimigo tem toda a aparência de enquadrar-se na ansiedade do segundo escalão em agradar o presidente.
É precipitado apostar na solução negociada. Mas, se a ministra-candidata é inatingível, está sendo resguardada por ordem presidencial e não ficaria decoroso botar uma pedra em cima, tudo se encaminha para a culpa ser transferida para as costas do ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pereira.
O Zé Aparecido, com a brasa ardendo, tomou a iniciativa de pedir demissão. E está avisado que será convocado para depor na CPI dos Cartões.
Se for necessário mais carne para saciar a gula oposicionista, a próxima na fila é a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.
E daí não passa.
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