27 de jul. de 2007

Aspones

Por Ralph J. Hofmann

Existirá quem não conheça um aspone? Tomei conhecimento desta palavra lá por 1973. Trabalhara alguns anos em uma indústria grande, com alguns milhares de operários, em que o maior acionista mantinha seu dedo sobre o pulso da empresa mesmo que estivesse aposentado e passasse grande parte do tempo no exterior. Os diretores não tinham secretarias. Havia um pool de meninas coordenadas por uma senhora que seguia sendo secretária do acionista controlador ausente. Não havia pessoas sem missão específica. Tudo muito enxuto e eficiente.
Mas após isto me encontrei um dia num grupo de “brainstorm” destinado a desenvolver projetos para o detentor de uma grande fortuna. Esse pessoal era oriundo do mercado financeiro. Passei a notar que nas reuniões havia um sujeito que sempre parecia atravessar o samba. Falava impropriedades, era escutado, louvado e ignorado.
Inocentemente perguntei por que o sujeito estava ali. ‘Bem’ me foi explicado ‘ele é o aspone do chefe’.
‘E o que seria um aspone’, perguntei.
‘Aí varia, pode ser com a grafia aspone ou asponem. Prefiro essa última. Cobre as duas identificações. O sujeito é ou um Assessor de Porra Nenhuma ou um Assessor Para os Negócios com Mulheres’.
Um aspone bem situado não causa grandes problemas. É um pequeno luxo que um executivo se permite. Inócuo, uma espécie de secretário para assuntos delicados, uma fonte de massagem para o ego, potencialmente um boi-de-piranha para quando os álibis quanto às belas-da-tarde caem por terra (Já proibi mil vezes o Antenor de usar meu carro quando vai a motéis, mas sabe como é, foi meu colega no colégio).
O problema é quando nem o patrão nem o aspone se dão conta da função respectiva. Pior ainda é quando o patrão é um aspone com aspones.
No Brasil de hoje está acontecendo precisamente isto. Em muitos casos estamos frente a cadeias de aspones. Lembram uma daquelas nuvens negras, que se estendem de cem ou duzentos metros acima do chão e vão até os limites inferiores da estratosfera. Carregadas de energia e chuva. São chamados CBs, Cúmulos de Bigorna, devido ao seu formato. Aviadores aprendem cedo no curso d meteorologia que nunca devem entrar num CB. Pois é, o serviço público não-concursado do Brasil hoje se assemelha a CB recheado de perigosos aspones.
O aspone sempre evita comprometer-se. Não manda executar nem executa nada. Fazê-lo poderia obriga-lo a assumir uma responsabilidade. Responsabilidade não tem nada a ver com a missão do aspone.
Dá para sentir pena dos aspones do governo brasileiro. Às vezes guindados até a cargos ministeriais, dominam o linguajar, apreciam ter por uma vez seus próprios aspones, mas percebem que têm um problema:
Quem vai dar ordens e colocar em dia esta zona?

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Sr.
Penso que esse não é o maior problema nos cargos públicos. Não há nenhuma, ou se há é pouca, cobrança pela eficiência. O Estado não disputa mercado, não compete com coisa alguma. Não são sequer regidos pela CLT, ainda que esclerosada, e, portanto, não tem ameaça de demissão.
Ainda que ocorram cargos que são preenchidos por concurso público, o sistema universal de QI ainda predomina. Não há cobrança por metas ou tarefas e, se ocorrem, não é um desafio que exija muito. Penso que existem pessoas que de forma honesta fazem com que o serviço seja executado, mas que, se começarem a exagerar na eficiência, serão observados pelos colegas como uma quebra no esprit du corp. E assim, vamos vivendo de amor, como diz a canção. Numa empresa privada o andar da carruagem é completamente diferente. Brincou, dançou. Não se permite acomodação em nenhum setor da empresa, pois todos tem que contribuir para o resultado. A procura permanente por um nível de eficiência satisfatório é tarefa da gestão. Como nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco, todos têm que estar atentos para o desempenho das tarefas. Fui empregado e, posteriormente, empregador e sei o quanto é espinhosa a condição de empresário. Há os idiotas que pensam que os empresários só pensam em lucro e nem imaginam que este é um número que premia ou condena uma gestão. É a nota que se tira pelo nível de eficiência.
Há algo semelhante na atividade pública? Nem de perto. E quanto mais inchado um Estado estiver, menor a eficiência do sistema.