31 de ago. de 2007

O povo brasileiro

Por Peter Wilm Rosenfeld

Desde minha infância, sempre ouvi dizer que o povo brasileiro era de índole especialmente boa. Não tinha preconceitos, aceitava as vicissitudes de forma bastante tranqüila, preocupava-se com seu sustento básico sem qualquer inveja dos que gozavam de melhor situação que a dele.
Em boa parte, isso era atribuído à miscigenação resultante do cruzamento das várias raças (designação com a qual não concordo) que haviam contribuído para se chegar aonde se chegara até então: branca, negra, índia, amarela, etc, que inclusive teriam contribuído para a existência da cor mulata, de beleza excepcional. Igualmente, nacionalidades distintas conviviam em perfeita harmonia, apesar de em seus países de origem muitas delas não se entenderem.
Continuo acreditando que o ser humano brasileiro (de qualquer sexo) é de muito boa índole. Honesto, luta de forma corajosa, mas pacífica por sua sobrevivência e, em grande parte, orgulha-se de sua nacionalidade.
O que me leva a abordar esse tema é a constatação que, cada vez mais, essa gente é contaminada pelos maus brasileiros que, lamentavelmente, estão se reproduzindo a uma velocidade maior do que a dos coelhos...
É triste verificar que um dos maiores jogadores de futebol do Brasil se celebrizou e é sempre lembrado por uma frase criada para a divulgação de u’a marca de cigarros que já nem mais existe: “é preciso levar vantagem em tudo”.
Ousaria dizer que a quase totalidade dos políticos pensa assim, desde o vereador e o prefeito do menor município brasileiro até os políticos mais eminentes do País. Sem qualquer sombra de dúvida, grande quantidade de empresários, também de todos os portes, acompanha esse pensamento.
Os pseudo-religiosos, à frente o milionário (ou biliardário?) bispo Edir Macedo, também estão nessa categoria.
Não fora assim, como explicar/justificar a cada vez maior quantidade de corruptos (para cada corrupto há pelo menos um corruptor...)? E o cada vez maior grau de impunidade de que essa gente goza?
Será que nunca mais veremos o bem predominar sobre o mal? O mau ser premiado às custas do bom ?
Dirão os espertos (apoiados pelos expertos): são nossas leis e códigos que são falhos, pois permitem toda a sorte de procedimentos protelatórios; que rezam que “ninguém é desonesto até que a última sentença condenatória tenha transitado em julgado”. Beleza de frase, que a maioria dos leigos não entende, e que frustra a totalidade dos honestos.
Nem que o criminoso confesse seus crimes, sob qualquer justificativa e sem ter sido torturado para confessar, ele continua a ser inocente. Beleza pura, pois não? E o que é necessário para isso?
Basta que esse criminoso tenha recursos, ainda que potenciais, para usar de todas as chicanas que nossas famosas leis lhe oferecem. Como o coitado ladrão de galinha ou de um litro de leite não dispõem do vil sonante, são trancafiados e, muitas vezes, esquecidos em nossos aprazíveis presídios...
Aliás, um parêntese: qual a razão de todos nossos presídios ou carceragens serem verdadeiras pocilgas, exceto as recentíssimas prisões de segurança máxima? Será que todos nossos apenados se assemelham a suínos? E qual a razão para que um detentor de curso superior tenha direito a prisão especial, se é tão criminoso, tão bandido, quanto qualquer outro? E seguramente mais bandido do que uma pobre mulher que roube um pacote de manteiga?
Voltando à desculpa de nossas leis e códigos estarem superados (e estão mesmo, todos. São do tempo em que os lampiões eram a óleo e os bondes puxados por tração animal...). Por que nossas elites não tratam de atualiza-las ? O Brasil sempre foi conhecido como o país dos bacharéis, onde toda e qualquer pessoa merece – e aceita, o tratamento de “doutor”, apesar de a maioria (ou grande parcela dela) não ser; qual a razão, repito, para que as leis não sejam atualizadas ?
É evidente a razão única para isso: não interessa a essa massa que sempre quer levar vantagem em tudo!
Quem sofre com isso, evidentemente, são os ainda milhões de cidadãos sérios, honestos, que trabalham dignamente para ganhar o sustento de sua família, para tentar dar a seus filhos um nível mais elevado de instrução, mas que luta com incontáveis obstáculos para consegui-lo.
Quando eu era pequeno, o grande ditado brasileiro era “se o Brasil não terminar com a saúva, a saúva terminará com o Brasil”.
O ditado hoje só pode ser “se o Brasil não terminar com os corruptos, os corruptos terminarão com o Brasil”. .
A cegueira e a ignorância de nosso assim chamado primeiro mandatário fazem com que o Sr. Lula da Silva ignore completamente essa realidade; aliás, mais do que ignorar, até parecem estimular sua continuidade, ao proteger, entre outros tantos, o Ali Babá brasileiro e seus quarenta ladrões (parafraseando o digno Procurador Geral da República).

Um comentário:

Anônimo disse...

Em Mogi Guaçu SP, tivemos um prefeito, na época em que o fio de barba valia, sempre comentava:
"Na política o problema não são os adversários: eles ajudam a fazer uma boa administração,sempre estão procurando pêlo em ovos. Agora, os amigos,é difícil dizer não, são uns pés no saco: sempre pedindo coisas, querem sempre ajeitar e acomodar problemas com soluções rápidas e até anti-éticas...
A saída que ele usava para com os amigos era: O QUE VOCE ESTA PEDINDO PARA EU FAZER, SE ALGUÉM PEDISSE O MESMO, PARA VOCE FAZER, OCUPANDO A MINHA POSIÇÃO, NÃO FICARIAS CONSTRANGIDO?”