22 de out. de 2007

Uma estupidez vil e agressiva

Por Giulio Sanmartini

Em maio de 1993, depois de 47 anos, voltei à Itália, país onde nasci, mas logo me transferi para o Brasil, onde vivi esse tempo. Em uma manhã desembarco em Roma, era domingo.
Peguei um táxi para ir até o hotel e fui conversando com o motorista, um maluco beleza, que se admira por minha história de ter deixado meu país e estar voltando, me propõe, por ser dia de pouco trabalho, levar-me a um passeio de automóvel contanto que além da corrida, lhe pague o almoço. Depois de comer fui dormir no hotel. Acordei já tarde alta, mas era um período do ano onde às 8 da noite ainda está claro, assim resolvi dar um passeio a pé, claro que me perdi, entrei em ruas largas,estreitas, becos e finalmente, não sei porque, acabei na praça onde está localizada a Fontana di Trevi, que tornou-se mais conhecida no mundo pelo filme A Doce Vida, quando de madrugada uma gostosíssima, inesquecível e monumental Anita Ekberg resolve tomar um banho.
Tomei um choque tal a beleza que se me apresentou, como se não bastasse, ainda meio tonto com o achado fui andando e ouvi uma música, era um rapaz tocando no violoncelo Corcovado de Tom Jobim, aí foi demais, desatou-se o nó da garganta e as lágrimas começaram a me rolar pela barba. A vida, que me foi boa, propiciou-me voltar mais algumas vezes ao local, e a sensação sempre se repetiu com igual intensidade.
Nesse dia 19 de outubro mais ou menos às 4 e meia da tarde um sujeito que deixou uns manifestos dizendo-se da desconhecida “FTM ação futurista 2007”, burlando a vigilância jogou um pacote de anilina vermelha dentro da Fontana, fazendo que suas águas ficassem vermelhas (foto).
A Fontana di Trevi não é só um monumento, é um símbolo do mundo ocidental, é a água da doce vida, é o paradoxo do pobre e genial vigarista, que vende arte falsa aos turistas endinheirados, mas ignorantes, e o “Arrivederci (ao nos revermos) Roma” pronunciado quando se lança a moeda que nos promete a volta. É o ponto final da chegada de todas as ruas do mundo.
O individuo que gratuitamente a violentou é a prova cabal que a mãe dos imbecis está sempre grávida.

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