12 de dez. de 2007

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Por Peter Wilm Rosenfeld

O Brasil está uma festa. Compra-se e se vende de tudo, pagando-se “a perder de vista”, no dito popular.
Tenho para mim que está se formando uma “bolha de consumo” (na linguagem dos entendidos) que, da mesma forma como está ocorrendo nos Estados Unidos no setor imobiliário, daqui a algum tempo estourará e será um Deus nos acuda.
Automóveis estão sendo financiados em até 7 anos; moveis e utensílios domésticos também nesses prazos.
Com a grande ênfase no valor das prestações, o povo não se dá conta de que, ao final do mês, essas prestações todas se somam, muitas vezes perfazendo um valor acima do que o tomador dos empréstimos recebe de salário ou de outras rendas. E, para os que têm conta bancária, dê-lhe cheque especial, com os juros mais altos do mundo atual. E o dinheiro para o sustento da família, onde fica?
Há dias o banco em que tenho conta me telefonou, informando que, pelo valor de minha aposentadoria, eu poderia pleitear um empréstimo consignado de “x”, a ser descontado diretamente do pagamento do INSS, sei lá eu em quantos meses. Esse é o típico engodo usado ou pelos que querem fazer muito dinheiro cobrando juros ou dos que querem fazer com que o consumo suba, para que possam alardear que as vendas aumentaram de forma significativa, a indicar que a economia vai muito bem e que o governo está no caminho certo.
Ora, isso não pode ficar assim. É muito bonito poder comprar um bem qualquer, seja um aparelho de TV (agora de alta definição, digital...), seja um refrigerador, ou o mobiliário de um quarto, quando se tem certeza de que o rendimento mensal é significativamente superior ao valor das prestações a perder de vista.
Mas, antes de se cair na tentação de um segundo crediário, há que considerar cuidadosamente se o orçamento mensal comporta essa prestação adicional “sem” sacrificar a compra dos bens indispensáveis à vida, principalmente mantimentos e material de higiene e limpeza.
De nada adianta ter um lindo aparelho de televisão em casa se não se tiver comida; “saco vazio não fica de pé”.
Essas considerações valem, principalmente, para a massa de assalariados que vive de um ou de dois salários mínimos mensais, que paga aluguel (o sonho da casa própria ainda está longe da maioria), valor que tem que durar o mês inteiro tendo que permitir, também, a fezinha na mega-sena (não há país que explore tanto a jogatina pública quanto o nosso) ou em outro dos jogos de azar patrocinados pelo governo, a cervejinha no fim de semana (quando não o chope ou a “branquinha” diários) e o ingresso para o jogo de futebol).
Poder-se-á argumentar que o Brasil nunca esteve em tão boas condições como atualmente, inclusive tendo entrado para o grupo dos 70 países com os mais altos índices de IDH, em último lugar... (mencionei isso em meu artigo anterior mas faço questão de repetir).
Esse alto índice de IDH faz-me lembrar uma história contada pelo falecido Mario Henrique Simonsen (não sei se inventada por ele). Essa história dizia que um cidadão se havia afogado ao tentar atravessar a pé um rio com a profundidade média de 20 cm, que em seu ponto de maior profundidade tinha 3,0 m. e em sua parte mais rasa a profundidade de 1 cm...O cidadão não sabia nadar, obviamente...
O Brasil está exatamente nessa situação. Há algumas poucas regiões cujo índice de IDH é bastante alto (ainda não chegando ao primeiro mundo) e a maioria de nossas cidades está com índices comparáveis aos mais baixos do mundo. A saúde, ah!, essa está “quase perfeita”, nas palavras do Presidente da Silva.
Para finalizar o tema presente, alerto que a facilidade de obtenção de crédito pode ser (e certamente é) muito perigosa para a maioria das pessoas físicas(e, conforme o caso, para empreendimentos comerciais e industriais também).
Não posso me furtar a voltar ao assunto CPMF. É escandalosa a maneira como vem sendo tratado o chamado “imposto do cheque”, com o Sr. da Silva estertorando, aos berros, que os que são contra esse tributo são sonegadores, tendo transformado o tema em balcão de negócios dos mais vergonhosos (o “mensalão” foi troco de cafezinho em comparação).
Paralelamente ao terrorismo, que foi tema de meu artigo anterior, vem agora o patético Ministro Mantega assegurar que no dia seguinte ao da aprovação baixará a contribuição previdenciária, por etapas, para até 15%(revista Veja, edição 2.038, pág. 15). E o famoso déficit previdenciário, para onde irá?
Finalmente, uma excelente notícia!!! É possível que o próximo Presidente do Congresso Nacional e do Senado seja o Sr. José Sarney, que foi um operoso Presidente da República( conseguiu elevar a inflação no mês de março de 1990 para inimagináveis 84%), como virtual “dono” do Maranhão transformou esse Estado no mais pobre do País, desbancando o Piauí... É ou não é excelente para o Brasil?
Li e ouvi nos noticiários de ontem que o Sr. Garibaldi Alves seria eleito hoje para a Presidência do Congresso e do Senado. Menos mal se isso acontecer!

Um comentário:

PapoLivre disse...

Peter estás com toda a razão Minha preocupação é com a exuberância do crédito ao consumidor e também a imobiliária. Na questão de imóveis se ficar devedor, perdoem-me inadinplente o imóvel será tomado sem muito xixi minha nega. O rito é praticamente sumário. Hoje o que manda é o nunca antes, o espetáculo do crescimento apareceu: temos terremoto e com vítima. Nunca antes....