Distanciados em suas idéias políticas, Herbert Marcuse e Jean-Marie Benoist se aproximam na denúncia da tirania da lógica. Marcuse diz que toda lógica encerra pretensão de domínio. Benoist, ao retroceder aos gregos, sobretudo a Platão, como intérprete de Sócrates, e a Aristóteles, o lógico por excelência, socorre-se de Nietzsche a fim de criticar a retórica dominadora da política e do Estado. Marcuse sempre foi homem de esquerda. Benoist esteve entre os nouveaux-philosophes franceses que nutriram o liberalismo conservador. Há, no entanto, em Tyrannie du logos, de Benoist, certos trechos que pedem a reflexão sobre a linguagem, enquanto instrumento de convencimento e de intimidação política, como a referência a uma passagem de Paul Ricoeur (em Histoire et verité):
"Isso vai longe, se é verdade que a palavra é o meio, o elemento da humanidade, o logos que torna o homem semelhante ao homem e funda a comunicação, a mentira, a lisonja, a omissão da verdade - males políticos por excelência - arruínam o homem em sua origem, que é a palavra, o discurso, a razão".
Não é fácil distinguir, pelo menos no princípio, a convicção honrada e a dissimulação do demagogo. Todo discurso político se funda em duas idéias centrais, a da liberdade e a da ordem. A razão convida a associá-las no serviço da justiça. Há momentos históricos que revelam a força retórica de grandes líderes, alguns dos quais conseguem mostrar que a ordem da justiça não é incompatível com a liberdade, mas, ao contrário, constitui sua garantia. Mas há também outros momentos - e desgraçadamente vivemos um, e que se prolonga há muito tempo - em que perversa tautologia apodrece até mesmo a ossatura dos vocábulos, e a repetição de idéias gastas (porque não autênticas) causa náusea aos homens honrados.
Leia a matéria no Jornal do Brasil online
Um comentário:
É o duplipensar, de George Orwell, em 1984: que livro profético e antológico assim como a Revolução dos Bichos! Lá, tudo se faz com lógica, lógica esta permeada por uma teia ideológica. Na nossa vã filosofia, que não é ainda um hermetismo ético e coerente, vamos tateando, como quem passa um Bombril num espelho para ver o que há por trás.
Postar um comentário