19 de jan. de 2008

O anti-semitismo

A nota do dito de Nana Caymmi “Fico me perguntando por que preciso sofrer tanto com isso. Não sou judia, não crucifiquei Jesus!” , ali no último dia 14, no blog do Ancelmo Góis e no mesmo dia respondi em prosa e política com o artigo “Nana Caymmi, politicamente incorreta”, onde mostro meu repúdio a qualquer tipo de descriminação.
A Itália desde a final da Guerra vive uma situação totalmente democrático com o estado constitucionalmente laico, todavia por um uso secular, a igreja catúlica exerce de forma velada mas irredutível uma grande influência política, e nessa pode-se notar o anti-semitsmo travestido de liberdade de expressão.
Nesse dia 17 pude ler artigo “Mas você nem parece judeu”, como segue abaixo:

"Arista amigo e eu conversamos sobre Nova York, onde ele tinha morado por vários anos. "A cidade é fantástica, mas pra trabalhar é muuuito difícil", diz ele. "Tem uma judaiada (sic) que domina o circuito de arte que, se você não entrar na deles, não consegue nada."
Espantei-me com sua desenvoltura ao vomitar preconceito tão virulento, logo ele, artista tão liberal, de esquerda, defensor de minorias e oprimidos.
"Eu sou judeu", foi minha resposta, fugindo ao bar, enquanto ele tentava se explicar melhor.
Lembrei dessa história ao ler na coluna Mônica Bergamo as explicações da cantora Nana Caymmi para suas supostas declarações publicadas pela revista "Quem". Após ser questionada sobre o sofrimento com um filho usuário de drogas e com seqüelas de acidente de moto, disparou: "Fico me perguntando por que preciso sofrer tanto. Não sou judia, não crucifiquei Jesus!"
Ouvida pela coluna, Nana negou ter feito tal declaração: "Todo jornalista, você me desculpe, deturpa o que a gente fala. Eu falei sobre o filme do Mel Gibson ["A Paixão de Cristo"], sobre pirataria". Ela ainda citou lista de amigos judeus para provar ausência de preconceito.
Já a revista "Quem" disse que a declaração está gravada, não foi descontextualizada nem o nome de Mel Gibson foi citado na entrevista.
O leitor que julgue. Tendo a não acreditar na cantora (apesar de minha admiração absoluta por seu pai, Dorival Caymmi) porque já vi esse filme várias vezes, principalmente a linha "mas você nem parece judeu!" quando revelo minha origem após tiradas antijudaicas.
É chocante e deprimente constatar como o anti-semitismo perdura e é tão tolerado mesmo depois do Holocausto, a matança imoral, impune e quase consensual de 6 milhões de indefesos judeus na Europa sob o regime nazista. (Como é chocante e deprimente constatar como perdura, também, a discriminação e a perseguição de negros depois de todo o sofrimento da escravidão ou outras tantas formas de discriminação contra tantos grupos.)

Leia a matéria de Sérgio Malbergier na Folha de São Paulo

(*) fotografia do holocausto, num campo de extermínio nazista.

Um comentário:

Abreu disse...

Eu não sou judeu (embora às vezes seja confundido com). Não uso kipá, não falo hebraico, não freqüento sinagogas, etc.

Por que me confundem com judeus? Não sei. Me confundem com tanta gente! Não vejo nisso nenhum motivo de especial lisonja ou de qualquer tipo de vergonha. Acho tudo normal e além de não procurar explicações quando as "confusões" acontence, dispenso 'justificativas', por desnecessárias.

Na verdade, me relaciono com todos os seres do gênero humano e não gosto de distinguir as pessoas pela raça, pela orígem, pelo idioma, pela cor da pele ou da religião, por exemplo (a não ser "na intimidade"), porque esse tipo de diferenciação é capaz de provocar guerras -- e de fato provoca -- das mais idiotas "inimagináveis", ao redor do mundo. Na África, tribos se dizimam entre sí "e nem sabem bem o porquê"...

Por isso, em vez de "valorizar" a estupidez ou a negligência-politicamente-incorreta da cantora citada, se o autor da matéria publicada na FSP se reservasse a coisas mais importantes, quem sabe ele pudesse dar "alguma" contribuição ao mundo.

De outa parte, Giulio, qual foi o seu propósito com este post?
Melhor ainda: Você poderia (mesmo sem querer pautar-lhe) falar sobre "o que é ser judeu" ou "o que é o judaismo", ou ainda, falar sobre as diferenças entre semitismo e judaismo "e por ai vai"? (Esta indagação é de caráter apenas retórico; não quero parecer indelicado ao ponto de "desafiar-lhe").

De minha parte -- como costumava dizer Leonel Brizola -- dou um rotundo zero à inútil e inconclusiva matéria de Sérgio Malbergier, pois tal como desgosto de qualquer ato que demonstre inequívoca manifestação de preconceito, também repudio atitudes de sectarismo ou de "orgulho" da raça, religião, ou seja lá o que for, que tal como as fofocas e quetais, apenas fomentam o distanciamente entre as pessoas que portem suas "diferenças" das demais.

"So sorry".