23 de jan. de 2008

O Podestá gaucho

Como foi dito ontem sobre ele. Em julho passado, ao assumir o Ministério da Defesa, o paisano Nelson Jobim vestiu sobre o terno uma farda imaginária e caprichou no papel de Marechal dos Ares. "Aja ou saia, faça ou vá embora", trovejou. A soldadesca captou o recado: nas tropas federais engajadas na guerra do apagão, só haveria lugar para quem gosta de chumbo grosso, não perde o sono com tiroteios e prefere a morte à retirada.
A luta seria feroz, sobretudo na frente paulista.
Nesta segunda-feira, seis meses depois da bravata, o Exterminador do Apagão capitulou. Vergado pelas pressões das empresas aéreas, Jobim anunciou a ressurreição do pesadelo: Congonhas será reaberto em março aos vôos com conexões e escaladas. "Mas a segurança do aeroporto continua intocável", fantasiou.
Até o próximo desastre, crocitaram os corvos que, assustados com o descalabro em Congonhas, trataram de voar para longe de pistas assassinas. Essa esquadrilha dos exilados logo será engrossada pelas aves que hoje evoluem sobre Cumbica, também fulminado pela rendição de Jobim das Selvas.
O aeroporto ganhará um novo terminal - mas só daqui a cinco anos. Até lá, terá de sobreviver sem a prometida terceira pista.
"A alternativa escolhida foi reconfigurar o pátio das aeronaves e o terminal", desconversou o guerreiro que esgotou a munição no discurso de posse. Faltou-lhe coragem para agir. Faltou-lhe disposição para fazer. Mas não lhe passa pela cabeça seguir a recomendação berrada no discurso de posse: vai ficar no cargo. Ser ministro no Brasil é bom demais.

Matéria do Jornal do Brasil

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