18 de abr. de 2008

Jovens do Brasil

Por Raphael Curvo - Advogado pela PUC-RJ e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ

Ainda tenho viva na memória meus primeiros anos de escola. A educação não era lá essas coisas cheias de técnicas e teorias, mas a gente aprendia, nem que fosse a base de palmatória. As saudosas professoras Betina e Carolina, do ensino primário, atualmente parte do fundamental, com gestos de carinho e muito amor nos faziam apreender ler e escrever ainda no primeiro semestre do primeiro ano escolar. E hoje? Quatro anos no ensino fundamental ainda existem crianças sem saber o básico do aprendizado: ler e escrever. Onde está a deficiência? Exatamente no carinho e no sentido profissional e de valor que estas professoras dedicavam ao ensinar. Era uma questão, até de honra e defesa do nome, saber que ao final do ano a sua turma de pequenos dera o primeiro passo firme na trilha da sua vida educacional. Existia, por parte dos professores, um compromisso moral e ético com os alunos, seus pais e a sociedade. Isto, sem referirmos ao amor próprio de ser um profissional competente e de responsabilidade pela tarefa assumida.
Exista, também, como parte do desenvolvimento do sistema educacional, a vontade política de fazer acontecer a educação. Os profissionais que assumiam a responsabilidade de ensinar tinham o lastro de reconhecido saber, em sua grande maioria com formação técnica no chamado “curso normal”, as normalistas. Eram jovens com conhecimento e vocação para ensinar porque assim eram preparadas para o nobre cargo de professor. Carreira de muita posição social e com remuneração adequada. O Brasil, até os anos 70, buscava se tornar um País de grande porte na área industrial e de tecnologia. Esta era a visão de JK ao construir Brasília e dar impulso ao desenvolvimento brasileiro em várias áreas, inclusive educacional, base imprescindível para tal.
A partir dos anos 70, a população começa a perder terreno para o estado dominador e um novo conceito começa a ser imprimido na relação estado / Nação. O poder passa a sofrer disputa acirrada e grande parte da sociedade começa a deixar de lado as questões éticas e mesmo de valores fundamentais na organização da vida em sociedade. Em nome de ideologias, formas de opressão, as cartas imperativas e legalmente constituídas deixam de observar valor nas relações Estado, Governo e Povo. De servidor, o estado passa a servido e esta situação até hoje permanece e sem qualquer perspectiva de mudança. É, talvez por isso, que não há interesse de governante algum, incluído os dos estados e municípios, em encarar de frente a situação de penúria que se encontra a educação brasileira.
Uma massa gigantesca de jovens estudantes e profissionais do ensino se tornam “massa de manobra” na mão dos que se apresentam como homens de elevado interesse na solução da educação. Iludem a população com políticas educacionais, de alto cunho de produção de votos, desprovidas de ensino produtivo e de qualidade de que é merecedora a nossa juventude. Procuram induzir, com distribuição de dinheiro aos incautos e paupérrimos grupos familiares, que o fazem para o bem da educação. São programas assistencialistas que deveriam ser desvinculados literalmente de ações educacionais.
Os concursos públicos, como é do conhecimento popular, não servem de filtro para escolha dos melhores profissionais para o exercício do nobre cargo de professor. O que deveria existir, como exigência pré qualificativa, seria o concurso de títulos. Deveria ser estabelecido um nível mínimo de qualificação educacional para o cargo, seja lá em que nível de ensino for. Os salários deveriam obedecer aumentos de acordo com a produção e resultados, somados a constante especialização e produção de trabalhos científicos. Deveria caber a União a responsabilidade única e intransferível do pagamento e do programa de cargos e salários da área educacional.
Os jovens do Brasil precisam se inteirar da realidade e reagir. Reagir com inteligência e sabedoria assim como aqueles bravos estudantes da Universidade de Brasília, o primeiro sinal de que é preciso mudar. Caso contrário, continuaremos vivendo esses absurdos que nos são protagonizados todos os dias pela maioria da classe política, o pior, por nossos governantes. Jovens do Brasil, onde estão vocês?

Um comentário:

Abreu disse...

Raphael,
Adriana,

Artigos como este me enchem de nostalgia, añoranza, melancolía, morriña — principalmente quando, como agora, estou ouvindo Beatles.

Putz! Dá mesmo vontade de chorar...
Lembro-me dos anos 60 — eu era garotinho, caçula de uma família enorme e amorosa, na qual todos nos preparávamos para ir à escola, onde tínhamos não simples professores, mas verdadeiros mestres... que coisa boa!

E hoje em dia? O que é que "temos"?

Vou tomar um bom blue, e só depois pensarei 'no resto'...