6 de abr. de 2008

A sacanagem corre solta

A banalização da safadeza
Augusto Nunes no Jornal do Brasil

Sucinto como os telegramas de antigamente, o currículo oficial do ministro Jorge Hage Sobrinho (foto), divulgado pelos sites governistas, limita-se a informar que o atual comandante da Controladoria-Geral da União nasceu na Bahia há 70 anos, foi juiz de direito, prefeito de Salvador, deputado estadual e deputado federal.
Quem pouco sabe de Hage talvez imagine que enfim apareceu alguém que, inibido pela modéstia, prefere não se estender sobre os serviços prestados à pátria. Engano, sabe quem conhece a figura. O tamanho e o teor do texto apenas demonstram que, se assim recomendam as circunstâncias, o verboso baiano é capaz até de ser conciso.
Se incorporasse ao resumo da própria trajetória bemóis e sustenidos alojados em antigas partituras, se contasse cada caso como o caso foi, se iluminasse os curtos registros com detalhes essenciais, o currículo ficaria com cara de prontuário. Foi o manual da esperteza, não a cartilha da objetividade, que lhe sugeriu esquecer que o leal ministro da era Lula foi um aplicado servidor da ditadura militar. O currículo oficial só trata com letras graúdas da fase mais recente da carreira de Hage. As etapas anteriores viraram coisa do século passado.
Uma omissão aqui, um retoque ali e pronto: o pecador que perde o sono quando pensa no Juízo Final vira candidato à canonização. O bisturi do redator da biografia tornou mais vistosa a fantasia de Primeiro Fiscal do Primeiro Governo Popular do Brasil. E removeu o Jorge Hage que não dava maior importância ao que achava a gente comum.

7 comentários:

Anônimo disse...

Aqui vou colocar só uma opinião pessoal: sendo de família de poucas posses, mas educada, daquela classe média-média que preza o estudo, a fala mais substancial, o respeito às opiniões, a informação, me dá nojo ver a dança no poder desses inúmeros cafonas desqualificados, ex-guerrilheiros, ex-assaltantes, pelegos, conspiradores e gritalhões.
Faz falta para o país respirar um pouco de finesse, um pouco de cultura, um pouco de educação.
Tendo trabalhado durante 21 anos em escolas de periferia da Capital paulista, vi que mesmo as pessoas
mais deserdadas da fortuna também têm discernimento para o que é bom e útil para a humanidade.

ma gu disse...

Cara Rô

Uma Amiga (com A maiúsculo) cigana me disse, naquele tom meio que de pitoniza, que eu preparasse a mente, pois é chegado o tempo de muitas máscaras caírem.
Oremos para que seja logo...

Anônimo disse...

Deus te ouça, Magu. Faz tempo que não abro o tarô, mas sou estudiosa dele. Eu tive uma luta meio ferrenha contra alguns corruptos daqui que constrangeram uma Diretora de escola concursada a abandonar o cargo, em nome da politicalha. Sei que eles mexeram os pausinhos aí em São Paulo e eu fiz de tudo para não conseguirem. Até a última noite do acontecimento, o tarô não respondia, até a hora em que respondeu que haveria uma vitória com muita alegria. Fiquei em paz. No dia seguinte, ela foi embora. A vitória era para eles. Pensei comigo: o tarô não mente, mas definitivamente não sei interpretá-lo. Espero que sua Amiga cigana interprete, então, os acontecimentos e que esses sejam de acordo com a justiça.

Anônimo disse...

Agora está explicado então : serviu a uma ditadura e está pronto pra servir a outra que, pelas notícias, se avizinha, pelo menos em latentes e crescentes intenções .
Alguém muito próximo poderia soprar no ouvido do Sr. Hage se ele, aos 70 anos de idade ainda não se deu conta disso, que não se vive para sempre.
E que, nesta idade, já era tempo suficiente para que ele meditasse e tentasse dar uma melhorada na sua biografia e que pudesse entender o olhar para o horizonte da nação brasileira, se alertando que ainda está em tempo de dar a sua contribuição para que nosso país democrático não caisse novamente num regime de exceção.

^^

Anônimo disse...

Giullio, Tópico interessante. Tenho sempre limitações para focar pessoas, imponho um rigor pessoal de buscar fatos. Não gosto de biografias - de vivos, tipo nome em prédio público. É farisaico? Nem de extintos, salvo casos especiais - Hospital Dr. Zerbinni; o homem foi um grande médico. Não sei e não vou pesquisar a sua filantropia, pois fazer o Bem é o maior traço de uma personalidade ou da personalidade. E fez, talvez sem em ajudar a "diplomar bons médicos". Não é sutil? Você poderia nos oferecer uma visão continental, como os homens públicos são olhados na Itália e no espaço europeu. Em sua terra, sinto isso, o homem de perfil pode ser eleito, mas fica isento da sanção comum a todos. Eis um fato político da maior relevância no Estado italiano. Não são todos que podem viajar e conhecer Mundo-s, o que podemos fazer através de livros, da Net e de homens e mulheres que habitam o Velho Mundo. Um pouco do tópico: a fama sempre cai da cama e nada é eterno, ninguém fica para semente; a Selva ensina. Não importa cargos, o que reputo sério é desempenho nos lugares funcionais e não ser colhido no fato de ocultar vícios - isso não apaga tudo, põe um pano opaco na visão, não importa ter lutado contra ou a favor de liberdades. O presente contamina gerações. Normalmente, um vício de hoje vai atingir a década de 2050, são quatro gerações que sofrem quando estão no limiar do conhecer a vida, a chamada maioridade civil (hoje, dezoito anos, não é assim que se resolve - vinte e um era tradição, o que se faz necessário é elimina corrupção e impunidade). Elogio o tópico, mas o texto é mais acompanhando o lamento sempre feliz de Rô-Litoral. Não critica, lamenta. O Prosa, a cada dia, consagra a atualidade e a oportunidade dos temas. Com firmeza e elegância. Caríssima RÔ, Temos que ficar ajoujado aos fatos... Fatos. Pessoas são pessoas, os julgamentos podem falhar nas simpatias e antipatias. O fato não, é mais seguro. Espero ouvir (lendo) a sua voz! Paz para todos. Giullio, não deixe de nos falar sobre a sua Terra, uma civilização linda, de milênios. Uma Terra que consegue abrigar em seu peito, em seu seio, em seu núcleo, um outro Estado, ainda que se minimize o fato de ser uma fração de espaço e de Religião. É uma lição muita linda, Roma abriga Roma-italiana e o Vaticano. É muita grandeza de cultura e convivência. Você, caro Giullio, tem do que sentir orgulho, sem o traço doentio do menosprezo. Eis um fato: o Brasil podia abrigar pelo menos os próprios brasileiros! Incrível! O Índio sofre! Dispense alguma palavra solta.

Anônimo disse...

Giullio, Uma breve correção: "mas fica isento..." Leia-se o correto: "mas NÃO fica isento..." Ter perfil pode eleger, mas fica submetido à regra de todos os cidadãos. Obrigado.

ma gu disse...

Alô, Caros.

Nada como um domingo, dia que se põe à mostra o melhor de cada. A coluna de comentaristas traz a mesma qualidade dos textos dos editores.
Rô, qualquer coisa que eu diga será supérfluo. O anônimo ˆˆ (um epíteto facilitaria) lembrou a idade da peça mas, respondo a ele com "Os parasitas são seres vivos que retiram de outros organismos os recursos necessários para a sua sobrevivência." Esquecem que matando o hospedeiro eles também morrem.
E o indio nos brindou uma bela peça.
Nada como um domingo para o prazer de ler...