19 de mai. de 2008

A competência de Marina

Por Adriana Vandoni

Foi a própria ex-ministra quem declarou no Estadão que o desempenho do seu ministério foi pífio neste segundo mandato, mas, em contrapartida, disse que no primeiro mandato de Lula o desempenho foi fantástico.
Se pegarmos cada um desses momentos, veremos que a competência do primeiro mandato não se deveu à competência tão propalada pela ex-ministra, mas pela crise por qual passava naquela época o agronegócio. O setor parou, o valor das commodities agrícolas havia despencado naqueles anos, e se não havia recursos disponíveis, quem se disporia, naquelas incertezas todas, a sair derrubando árvores para plantar?, e negar essa ligação é acreditar em contos de fadas.
Tomando por esse parâmetro, os valores das commodities agrícolas, tem-se que são estimulantes ao desmatamento, mesmo que indiretamente, embora deva ficar bem claro que o aumento da produtividade regional não esteja associado a ela. O sucesso da produtividade regional é fruto de anos de trabalho da Embrapa e dos produtores da região. Isso deve ficar bem claro.
Mas, na falta de políticas que estimulem outras formas de desenvolvimento para a região, é de se esperar que alguns dos habitantes se vejam estimulados a transgredir as leis ambientais.
A entrega da coordenação do PAS (Plano Amazônia Sustentável) a Mangabeira Unger não foi a primeira vez em que a competência de Marina foi preterida pelo presidente Lula. Em 2004 quando foi detectado um aumento considerável do desmatamento na Amazônia, Lula criou o “Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia” e para coordená-lo escolheu José Dirceu e não Marina, como seria razoável.
No ano seguinte, 2005, foi a Polícia Federal que na desastrada Operação Curupira de combate ao desmatamento, travou a região norte do estado de Mato Grosso e provocou um desemprego repentino de mais de 20 mil trabalhadores. Na mesma época a Volkswagen havia demitido 5 mil empregados, e houve enorme repercussão nos grandes veículos de comunicação. Em Mato Grosso ocorreu quatro vezes isso, de um dia para o outro. Como esperar outra coisa senão o desespero dos moradores de uma região muito menos habitada e com menos alternativas de trabalho?
A política ambiental deste governo está errada, caótica. Combate-se o crime, ao invés de preveni-lo. Se a compararmos com o crime urbano, neste qualquer estudo demonstra que nada vale a simples punição se não há políticas preventivas. Estamos cansados de ver a prisão de traficantes nas favelas, e cansados de saber que, no instante seguinte, outros assumem o comando do lucrativo negócio. Na floresta ocorre a mesma coisa, e pior, o Estado, mesmo que apareça apenas como repressor, está mais ausente ainda que na área urbana.
Se não se criarem alternativas de emprego, com a urgente realização de infra-estrutura para dar competitividade que estimule a vinda de indústrias que agreguem valor ao que aqui já se produz aqui, veremos a continuidade dos desmatamentos, não importa quantas operações, virulentas e violentas, de combate ao desmatamento se realize. É claro que isso deveria ser feito com critérios de preservação ambiental. Diante da crise mundial de dos alimentos, os preços das commodities agrícolas tendem a subir, o que pode ser o anúncio de novos grandes desmatamentos nos próximos anos.
Não é uma questão de simplesmente dizer que no campo existem mocinho e bandidos. Isso seria o óbvio. O que é preciso ressaltar é que no campo existe gente, gente que precisa sobreviver e que não pode ficar a mercê da incompetência dos governos. É muito fácil de dentro de gabinetes refrigerados criticar quem está no campo. Difícil é achar uma solução que preserve e desenvolva sem perda para o homem e para o meio ambiente.

Nenhum comentário: