14 de jul. de 2007

Acabou a Paciência

Villas-Boas Corrêa, faz ver que a paciência do brasileiro chegou ao fim: “A queda livre do Parlamento pode ser explicada pelos teóricos das maroteiras pelas mais variadas justificativas. Mas salta à evidência que no balaio das desculpas, entre o lixo da ditadura militar, os erros e trampas da malograda redemocratização, o atalho do Congresso atola no pântano da madraçaria da semana útil de dois a três dias.”
Vale ler o artigo abaixo na íntegra, como segue abaixo. (Jornal do Brasil)

A Inviável Reforma Para Valer
O apagão que juntou os três poderes e a imprensa na operação de despistamento intencional, ou por esperteza, deslocou o debate sobre a reforma política para as funduras do esquecimento, com a promoção da reforma secundária à saída escapista para a crise ética que corrói o Legislativo, no estado terminal da desmoralização e do descrédito; o Executivo na gangorra das potocas e das promessas e o Judiciário, pela primeira vez exposto na vitrine da conivência com a impunidade.
Para cada doença, a receita do remédio que cura. E o mais grave dos enfermos, jogado no fundo da fossa da rejeição e o que mais se coça para enganar a sociedade, é exatamente o mais democrático dos poderes.
O Congresso aparenta uma gravidade cômica na excitação cíclica dos debates e propostas de ampla reforma política. O tempo passa, a opinião pública esquece e o projeto de reforma do dia vai encolhendo até encalhar no lodo e sumir do noticiário e dos debates parlamentares.
Na sua última edição, as muitas idéias, sugestões e propostas de reforma política esgotaram o menu dos aperitivos. Da mais ambiciosa mudança do processo eleitoral, com as variantes da lista fechada ao financiamento público das campanhas para fechar as torneiras que inundaram a caixa 2 do PT, com sobras para o mensalão, às mais recentes e indolores, como a expulsão dos senadores sem votos, os suplentes nas vagas distribuídas entre parentes, cupinchas e financiadores da campanha e que baixaram o nível do Senado aos escândalos da temporada, do galante presidente, senador Renan Calheiros, ao renunciante Joaquim Roriz, dono dos votos brasilienses.
A maioria do Congresso - noves fora os que consideram o mandato um emprego, e dos melhores do mundo, com ganhos mensais acima dos R$ 100 mil - sabe que a reforma política para valer é urgente, inadiável, mas rigorosamente inviável.
O roteiro lógico para chegar ao estreito corredor de saída começa com a mudança da capital para o canteiro de obras de Brasília inacabada, em 21 de abril de 1960, impondo as improvisações para vencer as resistências dos que se recusavam a morar no cerrado. O sonho do JK-65 facilitou a farta distribuição de vantagens para convencer os teimosos. A cúpula togada recebeu o agrado de mansões, o funcionalismo foi engambelado pela dobradinha, e o Senado e a Câmara iniciaram a caminhada para o reino encantado das vantagens, dos privilégios até o desatino escabroso das verbas indenizatórias, salário indireto, com a grana de R$ 15 mil mensais para ressarcir as despesas dos milionários nos fins de semana em suas bases eleitorais e no aconchego das famílias, que fogem de Brasília como o capeta do rosário.
A queda livre do Parlamento pode ser explicada pelos teóricos das maroteiras pelas mais variadas justificativas. Mas salta à evidência que no balaio das desculpas, entre o lixo da ditadura militar, os erros e trampas da malograda redemocratização, o atalho do Congresso atola no pântano da madraçaria da semana útil de dois a três dias.
O apêndice dos escândalos, da orgia de despesas, da multiplicação das mordomias, vantagens, benefícios pendura-se na conta da cultura da malandragem.
Para arrancar o mal pela raiz bastariam duas medidas muito simples: 1) acabar com as quatro passagens aéreas mensais para o fim de semana com a família; 2) punir os faltosos às sessões das segundas às sextas-feiras com o desconto regimental.
Simples, não? E inviável, até que seja inevitável. Vira por bem ou na marra.
A paciência do povo tem limite.

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