Nunca pensei que uma caixinha de morango pudesse ensinar tanto a respeito da vida. Mas ela pode dizer muito. Numa caixinha plástica, envoltos numa proteção transparente, estão expostos para o deleite dos olhos os mais belos e tenros morangos. Em formato de coração, adornado com um vermelho intenso e chamativo, o falso-fruto mostra todo seu esplendor na parte superior da caixinha.
A beleza, tão efêmera, está em sua magnificência e conquista os olhos do consumidor, que encantado, compra o pacotinho para saborear os morangos. Ao abri-lo, uma surpresa. Por debaixo da beleza, há um falso-fruto raquítico, feio, amassado. Pequeno, muitas vezes mofado, seu destino não é tocar os lábios e ser degustado: ele segue para o lixo.
Esse acontecimento segue de norte para uma pequena reflexão. Resume a idéia da “ética do morango”, ou seja, aquela que vende a beleza, ludibria os olhos e lucra com algo que ninguém compraria.
Nas relações pessoais, há muitos que se utilizam desse artifício. Enganam e sabem lograr com um conjunto de palavras, com sorrisos e maleabilidades corporais o seu próximo. A ética deles é vender uma coisa e fazer outra.
Articulistas, jornalistas, vendedores, políticos, ambulantes, desempregados, uma gama muito “seleta” de pessoas age de acordo com a ética do morango. Pregam uma coisa e fazem outra. É a hipocrisia tomando lugar da verdade e contagiando muitos: se ele engana e lucra com isso, por que eu não posso enganar e lucrar com o próximo também?
Há de se levar em consideração que, ao agir dessa forma – enganar pra tirar proveito – fere-se um dos princípios básicos da boa conduta, que nesse caso é a honestidade. Por ela se entende a condição de ser honesto – algo que, infelizmente, é um valor em extinção e que necessita urgentemente renascer dos escombros das relações pessoais.
Longe de lições de moral: honestidade é prêmio que se conquista dia a dia. O maior lucro advindo dela não é material e não se contabiliza. Ele vem por meio da consciência limpa. Vale a pena ser honesto e se empenhar em transmitir essa idéia, pois a podridão (cedo ou tarde) vem à tona e demonstra que, por detrás dos belos morangos, há aqueles que estão mofados e que precisam ser eliminados.
jssjuliano@yahoo.com.br - Americana - SP
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