Por Giulio Sanmartini
Era uma época que minha situação de vida, não era, digamos, brilhante. Estava em São Paulo (SP) e por força da falta de dinheiro, era obrigado morar na Boca do Lixo. Local de prostitutas decaídas, pungistas e ladrões. Mas fiz amizade com o xerife local, uma baiano chamado Crispim.
Morava num hotel, que nem vale contar a categoria, mas um dia faltou-me dinheiro e tive que vender alguns pertences e fui até a feira de trocas, uma espécie de mercado de pulgas. Vai daqui, vai dali, o comprador resolveu ficar com meu objeto, mas me deu uma importância muito abaixo da desejada, assim para compensar me deu de quebra um cronômetro, desses usados pelos atletas, que o penduram no pescoço.
Estava no bar quando apareceu o Crispim:
- Italiano, tô sabendo que você tem um relógio daqueles do pessoal que corre.
- Tenho sim!
- Pois é, aquele cara ali – e apontou para o bar em frente - tá querendo comprar, você vende?
- Mas Crispim, aquele cara é um trombadão!
Entendendo, trobadinha é criança que esbarra em adultos e levar suas bolsas ou pastas, trombadão faz a mesma coisa, só que é adulto.
- É – continuo Crispim – mas é um sujeito decente, não tromba nem mulher nem criança. Vou chamá ele.
Fez um sinal ao tal, que atravessou a rua. Quis ver o cronômetro e fez a sua oferta. Fechamos o negócio, mas por curiosidade eu perguntei.
- Para que você quer isso?
- O senhor sabe, eu “trabalho” no Parque Ibirapuera, depois que faço meu serviço tenho que sair correndo da polícia e do pessoal que faz jogging, por isso tenho que estar em forma e sempre melhorando meu tempo de fugida.
Acima três atletas brasileiros, cada um em sua modalidade concorrendo no Pan-Americano
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