25 de out. de 2007

Transparência: Comigo não violão, dizem senadores

Por Chico Bruno

Em cruzada para deixar um legado de sua interinidade como presidente do Senado, o senador Tião Viana (PT-AC) mexeu em um vespeiro, ou melhor, em uma caixa-preta que atende pelo nome de verba indenizatória.
A proposta de dar transparência, na internet, a prestação de contas da verba mensal de R$ 15 mil que cada senador recebe como já faz a Câmara dos Deputados, deixou irados alguns colegas.
A proposta de Viana foi derrotada pela Mesa Diretora da Casa, mas mesmo assim, vários senadores procuraram o acreano para fazê-lo desistir da idéia.
O clima do Senado, que havia melhorado com a licença de 45 dias de Renan da presidência, voltou a ficar tenso com a proposta de Viana, principalmente por ele ter afirmado que era preciso clarear os obscuros corredores do Senado e que com a transparência não haveria mais o risco de dossiês de chantagem.
Nos corredores da Casa, vários senadores acusaram Viana de tentar faturar a interinidade.
Um dos mais indignados, o senador José Sarney (PMDB-AP), como sempre faz, usou outro argumento e condenou o fato de Viana ter pautado 21 emendas constitucionais para serem votadas em uma única sessão. Foi à forma encontrada por Sarney para fustigar Viana.
Já o seu soldado Gilvam Borges (PMDB-AP), que não tem a sutileza do chefe, disparou:
- “Isso é restrito [a verba indenizatória]. Devemos prestar contas somente ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Mesa. O senador Tião Viana que abra a dele”, disse Gilvam, que emprega em seu gabinete nove pessoas de uma mesma família.
A pressão levou Viana a suar frio, pois sentiu na pele a ira dos senadores.
- Não vou colocar em votação uma proposta que a maioria não concorda. Preciso buscar o entendimento, disse um Viana ressabiado.
Não é só a verba indenizatória que é considerada uma caixa-preta no Senado. Ali tudo é secreto.
Andreza Matias, da Folha de São Paulo e Evandro Ebóli, de O Globo são considerados, por alguns senadores e servidores, como inimigos número 1 do Senado por revelarem que a casa abriga em seus quadros várias famílias.
Da folha de pessoal aos mínimos gastos tudo é mantido no mais absoluto sigilo. Ninguém se atreve a dar uma informação, pois sabe que será punido.
A guarda de todos os segredos do Senado é da competência do primeiro-secretário da Mesa Diretora, um cargo disputadíssimo a cada dois anos, pois é ele quem gerencia o cotidiano da Casa.
Publicamente, nenhum senador admite ver problemas com a transparência da verba indenizatória, mas a boca pequena tem medo de ver expostas as suas mazelas.
A exceção é o senador Jefferson Péres, que abriu mão de receber a verba indenizatória desde que ela foi implantada.
Para não queimar o filme perante a opinião pública, os senadores encontraram uma saída hipócrita. Alegaram ao presidente interino Tião Viana que a transparência poderia ser encarada como “oportunista”.
O engraçado é que o Senado, na legislatura passada, aprovou por unanimidade o projeto Transparência, de autoria do ex-senador João Capiberibe, que se encontra na pauta da Câmara pronto para ser votado.
O projeto de Capiberibe é o "Big Brother" das contas públicas do país, pois através da internet em tempo real, quem quiser vai poder espiá-las.

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